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"Ergue-te no alto da Montanha"

 

As ribeiras correram, abundantemente, dias a fio. O vento de sul, teimoso, persiste em esconder a Montanha, mas os picarotos sabendo-a sempre presente, não se aborreceram com o escuro dos dias. O Carnaval quando chega é dança aos serões nas sociedades, matinés com desfiles de filhos e netos, fofas, filhós e malassadas quentinhas, partilhadas na alegria e no convívio que cimenta amizades na ilha à roda.

O Pico é assim: uma terra de gente rija, que tempera a rudeza do basalto com o verde dos matos e baldios, das quintas de laranjas seletas e americanas, com as faias e incensos que se criam por essas encostas fora, exalando um perfume que outrora as noivas levavam à igreja para abençoar a felicidade.

Mas o Pico é também uma ilha depauperada de gente nova, cujo viço da vida se revela em algumas manifestações que, pelo carnaval, sacodem o marasmo de ruas calmas e desertas.

Foi assim, há oito dias, no corso carnavalesco promovido pela unidade escolar das Lajes do Pico.

Todos os estabelecimentos de ensino, do pré-primário ao secundário, mais alguns idosos que, a custo, se juntaram ao cortejo, manifestaram a sua criatividade. Alguns, com laivos de inocência, transmitiram maneiras de ser e de pensar que a globalização e o ensino universalizaram. São novas filosofias de vida que se distanciam de outros valores que se começa a reclamar porque a sociedade tomou rumos que não conduziram à realização pessoal e coletiva.

Pensar que nas localidades mais afastadas dos grandes centros, não há lucidez nem clarividência para perspetivar novos rumos e sonhar mais alto e mais além, é reduzir a inteligência a núcleos citadinos de privilegiados.

Para bem de todos nós, também aqui há crianças e jovens com um profundo sentido da vida, com uma capacidade invulgar de sonhar, de refletir e de afirmar a quem saiba ouvir suas vozes que eles estão atentos e acreditam no porvir.

“Ergue-te no alto da Montanha” é uma das frases desenhadas no muro frente à Escola das Lajes do Pico. É um apelo aos jovens para que sigam rumo a valores mais altos que conduzem à felicidade.

E como o mar fica logo ali e o horizonte da ilha tem sempre como limite o oceano, eis que surge outro apelo: ”Sonha o mar no canto das ondas”.

E porque o olhar limita a distância e o mar transporta-nos para outros mundos ainda não acessíveis, alguém adolescente, certamente, lançou este lindíssimo repto: “Sonha o mar no canto das ondas”. E porque o sol acalenta esperanças e utopias onde se forja a alegria, fica este conselho: “segreda um sorriso ao sol”.

A profundidade poética destas mensagens, gravadas num simples muro frente à Escola, fonte do saber, constitui um hino à esperança, um apelo à felicidade, construída com a ajuda de uma natureza amiga que no quotidiano das ilhas tem uma importância vital.

“Abraça o vento e dança na proa da vida” é, a meu ver, a expressão poética mais profunda e mais bela que os jovens, da Escola das Lajes do Pico, animados pela força da vida, querem transmitir.

Oxalá este belo exemplo de criatividade poética seja seguido por outros estabelecimentos de ensino, aproveitando-se tantos espaços públicos, cujas paredes alvas de nada, aguardam mensagens de coragem e de vida de que tanto necessitamos.

 

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